quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Saudade também dói, destrói. Minha saudade é tangível, bem sólida, é grande demais, toma espaço. Sim, saudade também é dor. Talvez seja a maior das dores, a mais cruél, aquela que arranha a superfície, provocativa, mas não perfura, só fica ali sufocando, machucando e ardendo. Porque saudade é feita de vida. Pessoas, um sorriso com os dentes meio tortinhos, desalinhados, mas ainda assim perfeito. É feita de medos e temores bobos, de um choro aquietado num abraço apertado, de afago, carícia, afeto. É feita ainda de tristezas, soluços trancados no meio da noite porque ninguém pode escutar. Saudade leva riso na mala, piada que pra o resto do mundo parece sem graça, mas que te deixa de barriga dolorida de tanto rir. Leva mágoa, leva culpa, leva e traz arrependimento. Saudade não passa. Não tem cura, não tem remédio. Uma ferida de criança levada que quando prestes a cicatrizar, é magoada pela curiosidade. E de novo, e de novo. Até que enfim deixa uma cicatriz, uma cicatriz enorme, colossal, que engole toda a tua vida, cada momento, cada manhã triste, feliz ou normal. Cada suspiro. Tudo. Coisinhas pequenas, insignificantes até, mas que com o passar do tempo, deixam de ser, de fazer parte da rotina, deixam hiatos aqui e ali. Hiatos que se avolumam e começam a tomar espaço, até que tua vida se torna um enorme vazio.(…) Quem foi que disse que saudade não fere? Não machuca? Saudade fere feio, te flagela. Porque saudade te deixa com um sorriso meio-triste-meio-feliz, te deixa numa confusão, salta mas não pode fugir. Saudade é feita de momentos que não voltam. E traz esse sorriso pela metade. E como tudo que é pela metade, saudade também machuca.
Juliana Nery
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